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A cooperativa inclui, a globalização exclui

A participação das cooperativas no mercado é extensa. Desde o agronegócio até o sistema financeiro, as cooperativas apresentam um modelo sólido de governança sustentável.

De acordo com o relatório anual da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), 300 cooperativas ao redor do mundo geraram, em 2015, US$ 2.6 trilhões em volume de negócios.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 50% da produção agropecuária do Brasil passa, de alguma forma, por uma organização cooperativa.

Já a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) revela que 32% dos atendimentos privados em saúde são realizados por cooperativas médicas. Na linha do crédito, a maior rede de atendimento financeiro de nosso país também está nas mãos de sociedades cooperativistas.

Os números não deixam dúvidas de que esse modelo de governança, aliado às melhores práticas de gestão, garante sucesso aos seus associados e promove o crescimento socioeconômico.

Para falar com propriedade sobre cooperativismo e o impacto que esse modelo de governança vem causando ao redor do mundo, o professor Roberto Rodrigues concedeu entrevista exclusiva ao portal Conexão Seguros Unimed.

Rodrigues foi Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (de 2003 a junho de 2006), presidente da ACI e da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual Paulista – UNESP (1998) e, atualmente, é coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas e Embaixador Especial da FAO para o Cooperativismo.

Acompanhe a entrevista.

No mundo globalmente interconectado, o que faz uma cooperativa ter ou não sucesso e desenvolvimento sustentável?

Deve-se, antes de tudo, haver muita comunicação e informação sobre o que é cooperativismo. A partir daí, a primeira condição básica para ser exitosa é que ela seja necessária.

Depois, é preciso que a cooperativa tenha viabilidade econômica. Não adianta tentar montar uma cooperativa sem recursos financeiros que viabilizem o negócio. A cooperativa possui uma estrutura com princípios e valores sociais muito sólidos, mas é uma empresa como qualquer outra, então deve ser viável economicamente.

E, por último, tem que ter liderança capaz de capitalizar o espírito sociativo que existe na região.

No Brasil se fala muito da profissionalização da gestão nas cooperativas. O que isso quer dizer na prática?

O que caracteriza o sucesso de uma empresa é a agilidade para tomar as decisões, porque a competição é cada vez maior.

Em cooperativas não é fácil ter agilidade. Porque, em geral, procura-se auscultar os associados, consultar as bases para tomar grandes decisões que impliquem investimentos ou assuntos dessa natureza, e isso atrasa as decisões.

Para evitar esse atraso e, ao mesmo tempo, manter esse valor democrático, é preciso que os novos líderes sejam diferentes. Até pouco tempo atrás, o bom líder cooperativista era aquele que conseguia interpretar os anseios da sua base e transformá-los em ações propositivas.

Como esse processo demanda muito tempo, é preciso que o novo líder seja mais que um intérprete, ele tem que ser um visionário, tem que enxergar o caminho a ser percorrido e conduzir os associados.

Como o senhor vê o propósito das cooperativas no cenário atual?

No início do ano, assisti a uma palestra do Michael Porter, em Harvard (Boston), e ele fez uma interessante análise sobre competitividade entre empresas. O que elas fazem hoje para serem as campeãs? Investem em tecnologia, inovação e gestão para oferecer aos clientes o melhor produto pelo melhor preço possível. A maioria pensa assim.

Isso é fazer mais do mesmo, sem que ninguém seja beneficiado. Segundo Porter, a empresa não pode ser apenas a melhor naquilo que faz ou fazer mais do mesmo com mais qualidade; ela tem que ser única. Isso significa produzir o que seu cliente deseja e também não produzir o que o cliente não precisa. Tem que ter foco.

Eu voltei dessa viagem pensando muito nas cooperativas. Como elas podem ser únicas se elas possuem o mesmo princípio de código filosófico doutrinário? Me dei conta que elas já são diferentes das outras empresas “convencionais” porque não objetivam o lucro, e sim o bem-estar dos associados. Mas elas podem ser únicas por uma razão clara: preocupação com a comunidade.

A economia mundial sofreu um baque em 2008 devido a crise hipotecária que aconteceu nos EUA. Como o setor cooperativista passou pela crise e quais foram as lições aprendidas?

O setor cooperativista passou pela crise econômica muito melhor que os outros modelos de negócios. Se você olhar os dados publicados, verá que os bancos cooperativos sofreram muito menos com as crises internacionais de 2008 e 2010 em comparação com os bancos privados tradicionais.

Por que os bancos cooperativos correm menos riscos? A cooperativa de crédito, que é a dona do banco cooperativo, possui a tríplice função do associado: ele é dono, investidor e mutuário (cliente). Os bancos cooperativos são uma demonstração clara de que a resiliência do modelo às crises é muito maior.

Como o cooperativismo pode se aproximar dos jovens? Qual a importância dos jovens terem conhecimento do cooperativismo?

Assisti recentemente a uma propaganda em que o tenista Gustavo Kuerten pedia para comprar determinado frango porque ele é 'melhor, mais barato e é da cooperativa'. Do ponto de vista da publicidade, essa empresa está sendo um exemplo inovador no Brasil sobre como associar o produto ao cooperativismo e explicar a doutrina.

Há anos eu vivo falando disso! Na Itália, as cooperativas lançam campanhas com uma espécie de selo que identifica que o produto é de uma cooperativa, ou seja, mais barato e com qualidade. Isso agrega valor ao produto.

As empresas devem assumir que são cooperativas e provocar o cliente. Chamar o cliente para si. Tem que associar o produto com a ideia do cooperativismo, tem que comunicar e agregar valor. Falta explicar para a população o que é cooperativa.

Todos têm que entender que a cooperativa é uma alternativa fantástica.

Como o Sr. enxerga o futuro do cooperativismo no Brasil e no mundo?

Eu considero o cooperativismo o melhor modelo socioeconômico que o mundo já foi capaz de desenvolver. Uma consideração que merece destaque: a cooperativa inclui, a globalização exclui.

A cooperativa mitiga a concentração da riqueza que a globalização imprime. A exclusão social e a concentração da riqueza são inimigas da paz.

Portanto, considero que o cooperativismo é o instrumento mais importante do planeta em defesa da paz, razão pela qual eu trabalhei na ACI para que a ONU desse ao cooperativismo um Ano Internacional.

Para o futuro, eu espero que as cooperativas cumpram cada vez mais o seu papel doutrinário de corrigir o social através do econômico. Dar condições econômicas aos seus associados para que eles possam ascender socialmente.

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