Mercado de crédito mais justo

Mercado de crédito mais justo

 

Como diminuir o spread bancário brasileiro? A resposta para esta pergunta pode estar no cooperativismo de crédito. No dia 20 de março, os números, a realidade das cooperativas e os benefícios de se associar à uma das instituições do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC) foram apresentados numa audiência pública ocorrida no Senado. (Leia +)

Atualmente, o Brasil possui um spread de 39%. Esse percentual é calculado considerando a diferença entre a remuneração que o banco paga ao aplicador e o quanto a instituição cobra para emprestar o mesmo dinheiro. E as cooperativas de crédito possuem elementos basilares que mostram o quanto o segmento é sólido e beneficia os brasileiros.

Quem fala sobre o assunto é o representante da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Ênio Meinen, que participou da audiência pública, no dia 20 de março, no Senado. Segundo ele, “a única solução sustentável para tornar mais justa a relação econômica entre a indústria bancária e os usuários é competição”. Confira!

- Qual sua percepção a respeito das impressões dos parlamentares ao ouvirem as informações sobre o SNCC?

A melhor possível. Percebi que ficaram bastante atentos à apresentação dos diferenciais do cooperativismo financeiro. Penso, também, que, de certa maneira, os parlamentares e demais convidados ficaram surpresos ao saberem da dimensão que o movimento assume no Brasil e no mundo, e dos seus impactos positivos na precificação de produtos e serviços e no processo de concorrência.

- Como as cooperativas podem contribuir com a redução do spread bancário aqui no Brasil?

Penso que em boa medida elas já vêm dando a sua contribuição. Os cooperados que elegeram as cooperativas como seus agentes financeiros e são tomadores de crédito percebem, nitidamente, os impactos do spread diferenciado. Nas praças em que as cooperativas têm uma presença mais expressiva, os bancos começam a rever as suas margens até com estratégia para estancar o processo cada vez mais intenso de migração de seus clientes para o sistema cooperativo. Com isso, mais e mais brasileiros estão tendo a oportunidade de se beneficiar das vantagens apresentadas pelas cooperativas de crédito, em relação aos demais entes do Sistema Financeiro Nacional. 

Com um quadro institucional bastante favorável e com o aumento da visibilidade, as cooperativas seguramente acentuarão a sua presença no mercado, incrementando o volume de operações e ampliando o seu protagonismo na regulação das taxas de juros e da precificação de outros produtos e serviços do mercado. Em síntese, quanto maior a escala – número de cooperados e volume de operações -, maior a contribuição do cooperativismo financeiro para a redução das margens de intermediação bancária.

A única solução sustentável para tornar mais justa a relação econômica entre a indústria bancária e os usuários é competição!

- É possível afirmar qual a diferença média entre as taxas praticadas pelas cooperativas de crédito e as demais instituições do Sistema Financeiro Nacional (SFN)?

Na audiência pública convocada pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, no dia 20 de março, eu apresentei esse número. Pelas informações que colhi, e tomando por base o volume de negócios (crédito e demais operações/serviços) realizados em 2017, posso afirmar que a economia anual (ou agregação de renda) para os cerca de 10 milhões de cooperados, pelo fato de escolherem as cooperativas como seus agentes financeiros, se aproxima de R$ 25 bilhões!

- Em relação às fintechs* quais as principais vantagens em se fazer parte de uma cooperativa de crédito?  

As cooperativas e as fintechs (startups* do mundo financeiro) têm semelhanças e diferenças. As principais convergências são:

• Propósito, já que as cooperativas se dedicam a promover a Justiça financeira;

• Protagonismo dos usuários, considerando que os cooperados são clientes e acionistas ao mesmo tempo;

• Confiança diferenciada;

• Descentralização dos serviços financeiros;

• Redução (eliminação) da intermediação;

• Flexibilidade/adaptabilidade;

• Precificação justa;

• Intensidade em tecnologia, já que as cooperativas também se preocupam em melhorar cada vez mais o atendimento aos seus cooperados, com agilidade, disponibilidade e comodidade.

Já as diferenças residem nos seguintes aspectos:

• Nas cooperativas o usuário (cliente) é também proprietário (e são muitos…). Ou seja, são empreendimentos coletivos em essência;

• As cooperativas são iniciativas locais/regionais e geram benefícios coletivos;

• As cooperativas têm amplo portfólio comercial;

• As cooperativas atuam em um ambiente mais formal/supervisionado (BCB), oferecendo baixo risco;

• Por outro lado, diante da informalidade, as fintechs tendem a ser mais ágeis/fluidas.

A propósito, ainda, desse tema, e para uma melhor compreensão da relevância do cooperativismo no campo da economia compartilhada, sugiro a leitura do artigo A hora e a vez do cooperativismo financeiro, disponível aqui.

- Como o SNCC promove a justiça financeira no mercado nacional?

As cooperativas contribuem com a justiça financeira, todos os dias, agindo de acordo com quatro vertentes:

- Proporcionando a inclusão (cidadania) e a educação financeiras;

- Impulsionando o desenvolvimento socioeconômico local e regional (para evitar a evasão de riquezas);

- Oferecendo aos cooperados todos os produtos e serviços financeiros em condições de preço diferenciadas e com um atendimento respeitoso e qualificado;

- mudando para melhor a relação entre bancos e clientes (este último, para mim, é o corolário do protagonismo do cooperativismo de crédito).

 

*Fintechs - O termo utilizado para as inovações e o uso de novas tecnologias por empresas do setor financeiro para a entrega de serviços financeiros. O uso de smartphones para o uso de bancos móveis e a possibilidade de realizar investimentos são exemplos da aplicação da tecnologia que tornam o acesso a serviços financeiros e bancários mais acessíveis à população.

*Startups - Dentro do segmento das empresas de pequeno porte, existe uma modalidade de empresas específica: as empresas emergentes (start-ups), que podem ser definidas como empresas iniciantes. Uma empresa emergente é uma empresa recém-criada, ainda em fase de desenvolvimento e pesquisa de mercados.

 

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