Em 2020, lucros de cooperativas do agro somaram quase R$ 10 bilhões
Valor Econômico

No ano passado, sobras cresceram 74,5% em relação a 2019 e faturamento chegou a R$ 239 bilhões
Impulsionado pela alta dos preços das commodities agrícolas, o faturamento das cooperativas agropecuárias do país cresceu 30,5% no ano passado, para R$ 239,2 bilhões. As sobras (lucros) chegaram a R$ 9,6 bilhões, montante 74,5% maior que o de 2019. Os dados fazem parte do Anuário do Cooperativismo Brasileiro, divulgado na última sexta-feira pela Organização das Cooperativas do Brasil (OCB).
O presidente do Sistema OCB, Márcio Freitas, lembrou que o primeiro trimestre de 2020 foi marcado por apreensão, já que as cooperativas não sabiam como os mercados se comportariam na pandemia da covid-19. Passado esse momento, disse, os grupos decidiram manter seus investimentos, que somaram cerca de R$ 12 bilhões no ano.
Para ganhar eficiência e reduzir custos, muitas cooperativas brasileiras optaram por fusões e incorporações no ano passado, disse Freitas. Com isso, o número de grupos de todos os setores caiu 8,4% em relação a 2019, para 4.868. No agronegócio, a queda foi menor: 4%, para 1.173.
De acordo com o presidente da OCB, o movimento é natural e já foi observado em outros países. A concentração das atividades em menos cooperativas ajuda a dar escala às operações, explica o dirigente. “A Dinamarca já teve quase mil cooperativas de laticínio. No correr de 30 anos, restou apenas uma cooperativa, mas hoje ela é a maior da Europa e consegue dar respostas melhores do que as menores”, diz.
A organização reitera que a diminuição no número de cooperativas no Brasil não significa que houve retração no setor. No ano passado, o número de cooperados em geral cresceu 11%, chegando a 17,2 milhões. No agronegócio, com a alta de 0,9%, o segmento ultrapassou a marca de 1 milhão de associados.
“Por ser um setor mais tradicionalista, as transições no agronegócio são mais lentas. Nas assembleias de cooperativas, vemos uma participação muito grande de jovens, mas o cooperado, a pessoa física associada, ainda é o pai”, afirma.
O cooperativismo rural devolveu R$ 8,5 bilhões aos cofres públicos em impostos em 2020, valor 30% maior do que o registrado um ano antes. Outros R$ 7,1 bilhões foram pagos em salários e benefícios aos 223 mil funcionários — aqui também houve avanço: em 2019 o setor gerava 207,2 mil empregos diretos.
As cooperativas agropecuárias são divididas em sete segmentos principais, sendo que boa parte dos grupos atua em mais de uma frente. O principal é o de insumos e bens de fornecimento, em que 38% das empresas estão inseridas. Depois vêm produtos não industrializados de origem vegetal (26%), produtos não industrializados de origem animal (11%), produtos industrializados de origem vegetal (10%), produtos industrializados de origem animal (8%), serviços (2%) e escolas técnicas de produção rural (2%).
O trabalho da OCB mostra que Minas Gerais liderou em número geral de cooperativas em 2020 (756). Em número de cooperados do setor agrícola, no entanto, o Rio Grande do Sul está à frente com folga, concentrando quase um terço do total (mais de 322 mil pessoas).
A participação feminina no cooperativismo também está aumentando, segundo o anuário. Mulheres representam 40% dos cooperados, aumento de 2 pontos percentuais em relação ao ano anterior. No setor agropecuário, o percentual cai para 15%.
Fonte: Valor Econômico.
Por José Florentino — De São Paulo